domingo, 9 de junho de 2013

Ilha das Flores

Desigualdade Social e indiferença: velhos conhecidos


A história nos mostra que a pobreza sempre existiu e uma grande maioria acredita que ela sempre existirá. Diferentemente dos antigos conceitos que afirmavam ser a causa da pobreza natural, ou seja, resultado da determinação “divina”, os pensadores reiteram que a pobreza é tão somente o resultado da desigualdade social. Karl Marx, em sua eloqüente dialética, aponta os efeitos da contradição entre o capitalismo e a classe trabalhadora, afirmando categoricamente que a exclusão e a desigualdade são frutos do nosso sistema econômico. Mesmo aqueles que não são seus ferrenhos defensores terão que concordar que tal sistema contribui de forma importante para o crescimento do abismo social que separa os “pobres mortais trabalhadores”, ou proletários, dos grandes empresários, a velha classe dominante: os burgueses.
Muitos adeptos dessa corrente ideológica têm apresentado de diferentes e criativas maneiras os conceito de Marx. Um premiadíssimo curta, intitulado “Ilhas das Flores”, foi um dessas bem sucedidas tentativas. Reconhecido mundialmente, foi considerado pela crítica européia com um dos melhores 100 filmes do século. O autor mostra de forma contundente como o sistema econômico, no qual estamos inseridos, contribui para a desigualdade e a indiferença com a necessidade alheia. Através de fatos corriqueiros, o autor narra a trajetória de alguns personagens divididos em classes sociais: uma dona de casa que vende produtos de beleza para ajudar no orçamento doméstico, um produtor de tomates, um fazendeiro e criador de porcos e finalmente os moradores da Ilha das Flores. Na narrativa, muitas informações são mostradas através de uma linguagem científica, cuja a intenção é a de “igualar” o ser humano por meio de descrições que denotam a raça humana. Contudo, mostra o desigual tratamento dado aos “iguais” seres humanos, colocando-os inferiores aos porcos. Na concepção do autor, o que determina a diferença entre os humanos é sua classe social, os bens que possui.
Mulheres e crianças que se alimentam de restos que foram descartados por tratadores de porcos e considerados como impróprio para o consumo, podem parecer, para muitos, sentimentalismo ou exploração da desgraça alheia, no entanto são fatos, e como tais devem ser apresentados. Graças a iniciativas como essas, a questão pode ser retomada nas rodas de conversas ou, pelo menos, nas cadeiras das universidades. Ilha das Flores, uma comunidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, foi o cenário dessa história, mas poderia ser qualquer outra das muitas existentes em igual condição no Brasil e no mundo. As opiniões em torno do tema são divergentes, contudo isso não impede que um desejo seja unânime: que não existam mais “ilhas das flores”.

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